Sobre literatura infantil

“(…) a literatura infantil também é literatura” (María Teresa Andruetto, Por uma literatura sem adjetivos, p. 43).

“(…) o verdadeiro autor infantil não escreve só para crianças. Os livros infantis só são bons realmente quando também conquistam leitores adultos. Os bons livros infantis mexem com a sensibilidade do leitor, não importa que idade ele tenha. Porque a verdadeira obra de arte não se prende a rótulos. Assim, o livro infantil de qualidade transcende todo tipo de classificação etária. E tem o poder de aproximar os pais dos filhos” (Ler é Preciso, Márcio Vassallo, p. 32).

“O grande perigo que espreita a literatura infantil e a literatura juvenil no que diz respeito a sua categorização como literatura é justamente de se apresentar, a priori, como infantil ou como juvenil. O que pode haver de “para crianças” ou “para jovens” numa obra deve ser secundário e vir como acréscimo, porque a dificuldade de um texto capaz de agradar a leitores crianças ou jovens não provém tanto de sua adaptabilidade a um destinatário, mas, sobretudo, de sua qualidade (…) A especificidade de destino é o que mais exige um olhar alerta, pois é justamente ali que mais facilmente se aninham razões morais, políticas e de mercado” (María Teresa Andruetto, Por uma literatura sem adjetivos, p. 61).

“Um bom livro é um livro menos funcional” (María Teresa Andruetto, Por uma literatura sem adjetivos, p. 65).

“(…) Um bom livro é um livro capaz de ficar em nossos corações, como ficam as pessoas que amamos” (María Teresa Andruetto, Por uma literatura sem adjetivos, p. 152).

“Eu convivi durante muito tempo com uma grande poetisa brasileira que foi Henriqueta Lisboa. Henriqueta também me deu uma pista muito grande para o meu trabalho, quando disse que a natureza era também muito sábia e a natureza nunca tinha feito uma árvore para adulto e uma árvore para criança; que a natureza nunca tinha feito um rio para adulto e um rio para criança (…). Então por que nós estávamos querendo fazer uma literatura para adulto e uma literatura para criança” (Bartolomeu Campos de Queirós, Sobre ler, escrever e outros diálogos, p. 56-57).

“(…) comecei a pensar que a literatura para criança era uma literatura apenas que permitisse também às crianças um outro nível de interpretação, mas que o adulto pudesse se aninhar naquele texto, da sua maneira também, e que a literatura infantil seria para mim apenas uma questão de criar níveis de leitura” (Bartolomeu Campos de Queirós, Sobre ler, escrever e outros diálogos, p. 57).

Sobre literatura infantil e ideologia

“(…) Às vezes, o que o texto mostra é provavelmente intencional (…). Mas, na maioria das vezes, o processo todo faz pensar no que acontece quando se faz café: o pó do café fica no filtro, fora do bule, da mesma forma que a ideologia consciente da sociedade em que vive o autor. Mas a água que passou por ele deixa de ser água e passa a ter o gosto, o cheiro e a cor do que no está ali e aparentemente ficou de fora. Da mesma forma, o significado latente da obra não é aquilo que é dito abertamente, mas aquilo que previamente informou todo o processo da escrita” (Ana Maria Machado, Ideologia e livro infantil, p.7).

“(…) quando se trata de crianças e livros infantis, devemos tentar ler os livros que nossas crianças estão lendo para que tenhamos condições de discuti-los com elas, mostrar a pontinha do rabo do gato ideológico escondido. E frequentemente descobrimos que, ao se desencadear esse processo, elas são muito mais rápidas do que os adultos em perceber os pontos problemáticos. Mas depois que aprendem isso, podem passar por cima delas de modo crítico”. (Ana Maria Machado, Ideologia e livro infantil, p.10).

“(…) o desenvolvimento da leitura crítica, a escolha de bons livros de um ponto de vista literário e a promoção de uma grande diversidade de livros constituem a única maneira de conseguir não ficar enredado na ideologia dos outros e manipulado por ela” (Ana Maria Machado, Ideologia e livro infantil, p.12).

Sobre literatura infantil e meio editorial

“A pressão para obter rendimentos imediatos tem um efeito perverso que atua contra os interesses do próprio círculo editorial, já que não contribui para criar novos e bons leitores. Porque os leitores (…) precisam ser construídos” (María Teresa Andruetto, Por uma literatura sem adjetivos, p. 62).

“Um bom editor, um editor preocupado com a literatura é alguém capaz de construir um catálogo perdurável, capaz de atender a melhor qualidade e a maior diversidade, talvez com menor concentração de vendas por título em benefício de melhores livros (…); livros cujas vendas se sustentem em longo prazo, ao contrário da voracidade que reclama resultados imediatos (…)” (María Teresa Andruetto, Por uma literatura sem adjetivos, p. 63).

“(…) A literatura por sua complexidade, por sua ambigüidade e, sobretudo, por sua particularidade, é uma árvore difícil de transplantar de uma cultura para outra, algo assim como uma espécie nativa de crescimento lento, que necessita de que a acompanhemos e cuidemos dela até que possa se enraizar. Não se trata de livros à la carte nem sob medida, não se trata de livros para todos os gostos, de uso múltiplo, mas de livros particulares que esperam, algum dia, encontrar-se com seus leitores particulares” (María Teresa Andruetto, Por uma literatura sem adjetivos, p. 153).

Sobre o ato de escrever

“Para escrever literatura, é necessário convocar a nossa criança. Simbolicamente, é ela que solta a voz do escritor, que o conecta com a fantasia, o imaginário, o sonho (…)” (Ninfa Parreiras, A vez e a voz da literatura infantil, p. 57).

“(…) descobri que escrever para crianças é um ato de contenção. Eu não posso nunca, no meu trabalho para a criança, deixar escorregar toda a minha fantasia. Tenho que conter o texto, reduzir o texto, para a criança encontrar nele lugar para o imaginário dela” (Bartolomeu Campos de Queirós, Sobre ler, escrever e outros diálogos, p. 56).

“(…) Insisto em construir um texto capaz de possibilitar aos jovens a conquista de maiores alturas. Quero um texto que tenha ressonância, capaz de provocar ecos, ir além da linha do horizonte. Persigo um texto capaz de ativar a capacidade criativa que existe em todo indivíduo. (…) Quero um texto que tanto permita a entrada da criança como também acorde a infância que mora em todo adulto” (Bartolomeu Campos de Queirós, Sobre ler, escrever e outros diálogos, p. 75-76).

Sobre leitura

“A aproximação da criança com os livros deve acontecer como a aproximação com os brinquedos: ver, tocar mãos e pés, levar à boca… Primeiramente, uma relação lúdica, de brincadeira mesmo. A criança precisa sentir e gostar do livro. Depois, a relação se estreita pela experiência que o ser humano vai adquirir com ele” (Ninfa Parreiras, Confusão de línguas na literatura: o que o adulto escreve, a criança lê, p. 28).

Sobre literatura infantil e educação escolar

“Uma das grandes contribuições que a educação escolar pode oferecer às crianças é a aquisição da leitura, o domínio da escrita e a capacidade interpretativa. Esses são os pontos importantes numa avaliação individual e de grupo numa sala de aula” (Ninfa Parreiras, Confusão de línguas na literatura: o que o adulto escreve, a criança lê, p. 156).

“Ao ler e escrever, a criança é sujeito da sua própria história: ela elabora, cria, registra, relata e tem voz (…)” (Ninfa Parreiras, Confusão de línguas na literatura: o que o adulto escreve, a criança lê, p. 157).